Superman sai do realismo e resgata o cinema pipoca para família
Publicado em 14/07/25 12:00
A pandemia trouxe uma infinidade de questões para Hollywood: do tipo de consumo da nova geração até salários e compensações financeiras para artistas, passando por um ponto crucial na criação dos filmes de alto orçamento — para quem são feitos os grandes blockbusters atualmente? Se até 2019 era evidente que os heróis se tornaram o maior pilar da bilheteria americana, em 2022 já era claro que essa coroa havia mudado de lugar — animações, remakes e franquias diversas já haviam retomado o posto, mas todas com um traço em comum: a família.
O novo Superman, dirigido por James Gunn, talvez seja o primeiro filme de heróis que consegue se conectar com esse propósito e fazê-lo de uma forma que não renega as origens da obra original — leia-se, não desrespeita o fandom mais fervoroso da DC Comics. Ainda que seja passível de crítica, como todo e qualquer filme, esta versão do Homem de Aço não se limita a replicar uma fórmula para agradar ao público A ou B, e acaba por criar uma narrativa que, tal qual os blockbusters mais clássicos de uma Hollywood menos desesperada, atinge várias gerações em uma só história.
David Corenswet e Rachel Brosnahan não são somente ótimos como Clark e Lois; eles formam um par que emana aquela química típica de boas e carismáticas comédias românticas — a cena do diálogo inicial e o beijo de encerramento são daqueles momentos que arrancam sorriso de qualquer um. A relação do Superman com Krypto, um dos grandes receios dos fãs, torna-se um elemento de comédia e afeição que não atrapalha o desenvolvimento do personagem principal; está ali para criar empatia e conexão por diferentes frentes do roteiro. A comédia, que poderia facilmente ser um ponto de exagero, como em outras obras de Gunn, é o tempero de leveza sem ingenuidade de uma trama pautada por temas fortes, atuais e que ressoarão em plenitude caso os mais dedicados queiram discutir a política exposta no filme.
Essa miscelânea de tons traz aquele aspecto “otimista” que se tornou a principal chancela deste Superman, mas, quando se fala em gênero, parece que finalmente traz de volta a aventura que se perdeu devido ao realismo que histórias como essa procuraram por tanto tempo. A jornada de heróis como Indiana Jones, por exemplo, misturava todos esses elementos; Star Wars também o fez; Goonies e até blockbusters como Jurassic Park, Independence Day ou Armageddon. Cada um em sua época, mas todos correspondendo a dois importantes fatores: o gênero em alta na época e a capacidade de conversar com o público mais amplo possível. E se, na década de 1990 e nos anos 2000 — auge dos filmes de invasão, tragédia e teorias da conspiração —, esses últimos títulos citados marcaram uma geração, Superman mostra que talvez agora seja a hora de os heróis abraçarem esses fatores.
O maior desafio do longa da DC/Warner é a drástica mudança de consumo do público mais jovem, que tem uma infinidade de opções de entretenimento. Acontece, porém, que pais, mães e filhos são o público que mostra maior potencial no cinema atual — não à toa, animações como Divertida Mente 2, Meu Malvado Favorito e até o chinês Ne Zha se tornaram fenômenos de bilheteria. Para que um nicho se transforme em mainstream, como aconteceu com a Marvel, talvez leve anos ou sequer aconteça novamente nos cinemas. E é nessas horas, tal qual em outras crises pelas quais a indústria já passou, que ela se volta para quem sempre tem um motivo para um programa de entretenimento em grupo: a família.
Fonte: Omelete // Thiago Romariz