FILMES NO CINEMA

Superman precisa salvar não só a DC, mas o cinema de heróis inteiro

Publicado em 02/07/25 09:00

A discussão sobre a vida útil do cinema existe desde antes da pandemia, por mais que tenha se intensificado depois dela. Ali, ficou evidente a quantidade e a qualidade das opções que um consumidor teria antes de escolher pagar um ingresso. Passados quase cinco anos, o cinema segue em busca de uma recuperação significativa — até hoje não atingiu, por exemplo, o patamar de bilheteria de 2019. Eis que chegamos ao verão norte-americano de 2025 e os maiores lançamentos da década vão acontecer, e com eles, mais um momento do dilema sobre o futuro do cinema. E, no centro da discussão, agora, está o reboot de Superman dirigido por James Gunn, que carrega nas costas não só a saúde da Warner como de todo o gênero de heróis.

Não é exagero nenhum dizer que o cinema de quadrinhos vai ter o seu futuro decidido pelos próximos 30 dias. O novo longa da DC chega depois de uma sucessão de lançamentos difíceis da marca. Flash fracassou, Adão Negro não vingou e Coringa 2 colocou a pá de cal na era iniciada por Zack Snyder. Sob o comando de Gunn, o DCU nasce com o Kal-El de David Corenswet em uma versão muito diferente da que gerações mais novas se acostumaram a ver. Para quem nasceu nos anos 2000, Superman representa um Goku sem o bom humor. Ele está mais próximo do Capitão Pátria do que de Kakarotto devido à leitura que Snyder lhe deu por quase dez anos, embalado pelo sombrio e realista que Christopher Nolan iniciou com Batman Begins - com a diferença que o vilão de The Boys ao menos ama ser o que é. 

Agora, com cores vivas, monstros gigantes e uma equipe de heróis irreverente ao seu lado, é difícil dizer como Superman será recebido por essa audiência que, queira ou não, representa um núcleo dos fãs da DC — nem sempre a maior parte, mas frequentemente a mais barulhenta. Inúmeras vezes, Gunn disse que se inspira em quadrinhos como Grandes Astros, de Frank Quitely, para dar vida a essa versão do herói. "Os filmes de Richard Donner e os de Snyder também sugerem histórias pessoais do Superman. Mas aqui é a história principal: qual é o relacionamento do Superman com ele mesmo?", comentou o diretor em coletiva de imprensa no Brasil. Muito disso parte também da relação entre Lois e Clark, que é o centro narrativo desta nova história. Mas aí fica a questão: o público ainda quer ver um casal tendo DR, um cachorro como amigo do herói e poderes com raios no meio de uma cidade caricata, solar e colorida?

Se formos olhar para as pré-vendas, a resposta é sim. Superman conseguiu vender mais ingressos antecipados que Quarteto Fantástico e The Batman, maior sucesso recente da DC. O apetite por uma nova leitura fica evidente no desgaste que o personagem teve nos cinemas, apesar do barulho nas redes, e ainda mais óbvio quando se olha a bilheteria das incursões anteriores da DC. Outro ponto positivo é como o público geral parece muito mais afeito a aventuras clássicas, com moldes quase noventistas, do que a algo transgressor ou vanguardista. O que o público parece pedir, se tirarmos como regra os sucessos de Top Gun, Deadpool, Moana e até Wicked, são filmes confortáveis e com histórias que exalam nostalgia — por mais recente que ela possa ser.

Pelas primeiras reações e até por todo o marketing que envolve o lançamento, Superman não se distancia disso. É uma aventura com comédia, romance e ação sob a batuta da ficção científica fantasiosa que Gunn orquestrou tão bem em Guardiões da Galáxia. De longe, parece uma boa receita para os padrões atuais do cinema de massa, mas será que funciona para o cinema de heróis? Ou melhor, o cinema de heróis ainda funciona? Alguns vão dizer, com razão, que quase nada mais tem êxito no gênero. Thunderbolts e Capitão América 4 tiveram bilheterias muito abaixo do esperado, mesmo com a Marvel recalculando a rota em refilmagens e até troca de nome. Resta entender se a leitura mais leve e fiel aos quadrinhos mais solares e otimistas do Superman poderá, de fato, salvar o gênero que literalmente moldou a indústria cinematográfica na última década — ou se essa será só mais uma tentativa de resgatar um tempo que já se foi.

Fonte: Omelete // Thiago Romariz

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