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Webséries teen viram fenômeno no YouTube: "Não adianta ter padrão Netflix"

Publicado em 07/08/19 05:00

Enquanto as séries dos serviços de streamings ganham atenção e muita cobertura da mídia, um mercado vem se abrindo com produções e público-alvo bem diferentes, mas capaz de movimentar audiências nas casas das centenas de milhares. As webséries do YouTube têm conquistado espaço entre o público jovem, com linguagem e produções mais simples.

É o caso dos trabalhos de youtubers como Vitória Moraes, a Viih Tube, e Pedro Rezende, o Rezendeevil, que já tinham tradições de muita audiência em seus canais e que canalizaram esse público para suas as séries, cada um em seu estilo e formato. Ou ainda das duas temporadas de A Melhor Amiga da Noiva, da Ponto Ação Produções. Viih, por exemplo, teve 80 milhões de visualizações em sua segunda websérie, O Enigma, presença certa no Em Alta do YouTube.

Uma das particularidades de Viih e Rezende é o fato de ambos youtubers colocarem a mão na massa em suas produções, não apenas atuando, como contribuindo na criação e roteiros, apesar de terem outros aspectos diferentes, como orçamento e duração dos projetos.

A primeira criação de Viih foi A Espera, lançada em maio de 2017. "Quando eu tinha uns seis anos, entrei para o teatro e amava atuar e brincar de fazer séries em casa. A primeira surgiu porque eu tinha muita vontade de atuar. Eu tinha aparecido em Cúmplices de um Resgate [novela do SBT] e amei, vi que aquilo era algo que não queria parar. Então, por que não continuar sozinha? Por isso criei a série no canal", contou ela, ao UOL.

"No início o objetivo era só trazer conteúdo novo, eu queria sair daquela mesmice, com algo mais produzido, com mais qualidade. As webséries estão começando a crescer e fico feliz de ter sido uma das primeiras a fazer", disse.

A youtuber Viih Tube Imagem: Reprodução/Instagram

Não adianta ter "padrão Netflix"

Júnior César Ferreira é diretor da Brasilera Digital. Ele passou a trabalhar com Viih Tube na segunda websérie, O Enigma, que deu um salto de produção em relação à primeira, em termos de captação e edição. "A primeira foi feita de forma caseira e já deu bons resultados. Depois nós abraçamos o projeto para a segunda temporada e montamos a equipe. Foi tudo acompanhado pela Vitória, que tem essa pegada de dramaturgia", explicou Junior.

O público-alvo de uma websérie como as de Viih e Rezende é o jovem de 11 a 22 anos, com a diferença de ela já fazer produções mais caras, enquanto Rezende aposta em uma estrutura mais simples para seus projetos.

Viih Tube em foto de Em Prova Imagem: Reprodução/Instagram

"Acho que o fato de dar certo no YouTube é pela própria linguagem, diferenciada para um público específico. O roteiro é pensado para esse público. Acredito que o formato dos episódios em sequência, a continuidade, a criação da expectativa pelo público acabam funcionando bem e foram algo diferente para o YouTube."

Segundo Junior, cada websérie tem orçamento que chega a R$ 300 mil, entre locações, elenco, hospedagens, o que é considerado um investimento alto para internet. Cerca de 40 pessoas participaram da gravação, que foi feita durante duas semanas, em Sapucaí Mirim (MG).

"No YouTube, o que tem dado certo com os influenciadores é a liberdade de se fazer um conteúdo caseiro, que a audiência se identifica. Uma produção exacerbada, a gente entende que tem resistência da audiência. Então, não dá para fazer algo cinematográfico, a ponto de distanciar da audiência. E fizemos um meio-termo que funcionou", comenta Junior. Os episódios da terceira websérie de Viih Tube chegam a ter 3 milhões de visualizações em 24h.

"YouTube e uma plataforma como a Netflix têm propostas muito diferentes. Se amanhã ou depois elas estarão alinhadas ou igualadas, é outro momento. Mas estamos incrementando as produções, com algo diferenciado para a audiência do YouTube absorver", explica o diretor.

Além de um roteiro atraente, que no caso de Viih é falar sobre escola, namoros, bullying e outros assuntos ligados aos adolescentes, a produção pensa no que poderá viver meme, no que vai gerar repercussão e no que vai trazer comentários favoráveis e contrários. Além disso, a nova temporada trouxe influencers no elenco, como Christian Figueiredo e Muca Muriçoca.

Os resultados são tão expressivos, que o YouTube acompanha de perto o canal e as webséries. Apesar de não ajudar diretamente, com campanhas ou investimentos, a empresa mantém comunicação ativa com os produtores, para entender o fenômeno e estudar o que fazer com ele.

O Parque Misterioso

O canal Rezendeevil traz produções mais simples, já que entrega quatro vídeos por dia. Pedro Rezende explicou ao UOL que consegue usar sua estrutura normal para gravar seus roteiros, de forma mais econômica. Outra diferença é que Viih Tube faz produções com dez episódios, enquanto Rezende estica suas histórias para dezenas de vídeos.

Imagem: Divulgação

"As webséries são feitas por mim, com ajuda da equipe toda. Começou quando fazia séries com o Minecraft, tive várias que bombaram, e falei: 'Vou fazer na vida real também'", disse ele. "Acho que dá certo porque a galera se prende e quer voltar, ver o desenrolar da história."

O Rezendeevil atualmente tem O Parque Misterioso sendo publicado no YouTube, variando entre 500 mil e 1 milhão de visualizações por capítulo.

"Misturo um pouco a vida real com as histórias", explica ele. "Se for uma websérie produzida, vai ser um valor alto, vai ter que contratar uma produtora, desenrolar tudo isso. Mas na pegada que eu faço, não temos um trabalho gigantesco, e conseguimos fazer com mais tranquilidade e tanto gasto, só os tradicionais da equipe."

Temática LGBT

Outras webséries que chamaram a atenção foram as da Ponto Ação Produções. A Melhor Amiga da Noiva estreou em março de 2017 e hoje totaliza 2,3 milhões de views no primeiro episódio, contando a história de uma pessoa que tem duas vidas e a relação amorosa entre as amigas Fernanda e Juliana. A websérie rendeu duas temporadas.

A produtora também lançou duas temporadas de Até Você Me Esquecer, com temática LGBT, totalizando mais de 800 mil visualizações em seu episódio final.

Fonte: UOL Cinemas // Maurício Dehò

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