Thunderbolts justifica ser Novos Vingadores porque é o mais corajoso da Fase 5
Publicado em 05/05/25 19:00
Quatro dias após a estreia de Thunderbolts* no cinema, o Marvel Studios decidiu revelar publicamente o principal spoiler do novo filme do MCU. Após meses fazendo os fãs criarem as mais variadas teorias envolvendo o significado do asterisco do título, a equipe liderada por Kevin Feige foi às redes sociais anunciar que, a partir desta segunda-feira (5), o "novo título" do longa é Os Novos Vingadores.
[Crítica] Thunderbolts* busca por “Novos Vingadores” com bom (e tímido) meta-filme Thunderbolts* | 5 coisas para assistir e saber antes do filmePara que acompanha de perto o MCU - ou não conseguiu evitar os spoilers após a estreia do longa -, a mudança não chega como uma grande surpresa. No final do filme, após impedirem a ameaça do Vazio (Lewis Pullman) e derrotar a versão sombria do Sentinela, os Thunderbolts remanescentes - John Walker/Agente Americano (Wyatt Russell), Yelena Belova/Viúva Negra (Florence Pugh), Alexei Alanovich Shostakov/Guardião Vermelho (David Harbour), Bucky Barnes/Soldado Invernal (Sebastian Stan), Fantasma (Hannah John-Kamen) - são anunciados por Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus) como os Novos Vingadores.
Entre elogios e críticas pela mudança no título, Thunderbolts* merece essa "mudança de marca" por motivos que vão muito além da publicidade. Com 94% de aprovação do público no agregador Rotten Tomatoes (até a publicação desde título), o filme coleciona elogios mundo afora não apenas por entregar um bom entretenimento para os fãs do MCU, mas também por ser o filme mais corajoso desta Fase 5 do Marvel Studios.
A afirmação parece ser um tanto ousada, mas vamos explicar o porquê isso faz sentido. Tratando-se de um dos arcos do MCU menos aclamados pelo grande público, a Fase 5 viu filmes como As Marvels e Capitão América: Admirável Mundo Novo sofrerem com mutações na pós-produção para se tornarem produtos minimamente aceitáveis para o fã raiz, aquele que perde horas de seu tempo criticando qualquer mudança feita na obra original para adaptar as histórias da Casa das Ideias a uma nova geração. O resultado disso foi um filme isento de qualquer qualidade afiada (Capitão América 4) e outro sem qualquer desenvolvimento orgânico e pouco inspirado (As Marvels).
O caso de ambos é notável porque são duas histórias onde ficou muito claro que a montagem precisou salvou o corte final dos filmes, justificando os relatos de muitas semanas reservadas para refilmagens. Isso significa que as versões de Capitão América 4 e As Marvels que assistimos no cinema não correspondem às ideias originais que diretores e seus roteiristas imaginaram inicialmente - no caso do filme estrelado por Anthony Mackie, o roteiro original de Rob Edwards passou por duas revisões, primeiro pela dupla Malcolm Spellman e Dalan Musson e depois por Julius Onah e Peter Glanz. São, pode contar, cinco roteiristas num só filme.
Claro, houve dois grandes sucessos para o estúdio durante esse período. Em Deadpool & Wolverine, o verdadeiro motor que ajudou o filme a ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão na bilheteria foi a fórmula batida de unir fan service com nostalgia. Feige e Ryan Reynolds se debruçaram na vontade astronômica dos fãs de ver o Mercenário Tagarela interpretado pelo ator ao lado da versão de Wolverine vivida por Hugh Jackman e cozinharam um produto cheio de autorreferências, surpresas e piadas. Já Guardiões da Galáxia Vol. 3 foi a continuação de uma franquia muito bem estabelecida e que trouxe de volta personagens queridos com a desculpa de que seria a despedida oficial desta versão da equipe, além de provavelmente ser o último trabalho de James Gunn dentro do Marvel Studios, agora que o cineasta ocupa-se com a construção do rival DCU.
Thunderbolts* Final Explicado | Como o filme prepara Vingadores: Doomsday Thunderbolts* tem cenas pós-créditos? Saiba quantas e o que acontece Thunderbolts* Explicado | Como o filme se conecta com o novo Quarteto FantásticoNão que Thunderbolts* não tenha passado por revisões para se encaixar em um plano maior. Em filmes de grande orçamento é comum que o roteiro passe por mais mãos do que o costume, e o próprio diretor Jake Schreier já falou publicamente que precisou cortar alguns arcos de personagens - e incluir uma cena pós-créditos que ele mesmo não gravou. Mas tudo o que vimos no corte final parece que foi proposto desde o início. Isso fica ainda mais evidente pela falta de cenas de ação megalomaníacas durante quase toda a duração do longa e o seu terceiro ato "morno", onde os heróis, agora intutilados Novos Vingadores, derrotam o vilão através da conversa, no maior estilo Naruto Uzumaki. Em pleno 2025 e às vésperas de um novo filme dos Vingadores, parece surreal que Feige e sua turma tenham aprovado um longa tão fora do roteiro clássico do MCU.
O final, inclusive, dá ainda mais ênfase à escolha criativa de priorizar o mental à ação. Tudo o que envolve o Vazio (versão sombria do Sentinela) diz respeito à depressão, à baixa autoestima do personagem e como isso influencia diretamente na manifestação de seus poderes. É uma escolha que certamente incomodou os fãs mais conservadores, mas a Marvel sustentou essa ideia mesmo depois de despolitizar Capitão América 4 e jogar para debaixo do tapete a existência de Eternos, tão criticado por abordar temas LGTQIA+ e outras pautas de valor social de forma expositiva.
Ao se permitir ser fiel à concepção inicial, Thunderbolts*/Os Novos Vingadores não está revolucionando o cinema norte-americano ou o MCU como o conhecemos, mas mostra um direcionamento positivo para o que imaginamos como controle criativo de um filme desta magnitude. Quem ganha é a Marvel, o público e a arte em si.
Fonte: Omelete // André Zuliani