Quem deve representar o Brasil no Oscar 2026?
Publicado em 10/09/25 13:00
Na próxima segunda-feira (15), o Comitê de Seleção da Academia Brasileira de Cinema fará a votação para decidir qual dos filmes da shortlist vai representar nosso país no Oscar 2026. Ainda na disputa estão O Agente Secreto, Manas, O Último Azul, Baby, Kasa Branca e Oeste Outra Vez. Trata-se de uma decisão de suma importância, já que o Brasil vive um de seus melhores momentos na sétima arte, algo que fica claro observando os seis títulos acima.
Nesta ótima lista, estão filmes de imenso poder artístico. O olhar feminino de Manas, a comédia sutil de Oeste Outra Vez, o surrealismo febril de O Último Azul, e assim vai. Oscar, porém, não é só sobre qualidade artística. Por isso, a seleção da Comissão não precisa definir “o melhor filme brasileiro” do ano, mas sim o melhor representante para o Oscar.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA é conhecida por favorecer o marketing e a promoção bem-feita, premiando não só o melhor produto, como também a melhor campanha sobre ele. Foi parte da razão pela qual Fernanda Torres e Walter Salles tiveram tanta força com Ainda Estou Aqui – a lembrança de Central do Brasil, a conexão com Fernanda Montenegro, o reconhecimento internacional do diretor; tudo isso ajudou a construir a narrativa.
E este ano, é difícil argumentar que há uma melhor narrativa para o Brasil do que O Agente Secreto, filme de Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura.
Crítica: O Agente Secreto é fantástico thriller com Wagner Moura no Brasil de 1970
Estamos falando de um filme que iniciou sua jornada com o raríssimo feito de levar dois troféus no Festival de Cannes – Melhor Ator para Wagner Moura e Melhor Direção para Kleber Mendonça Filho – enquanto era adquirido pela NEON, estúdio que fez campanhas vitoriosas no Oscar para Anora, Parasita e Anatomia de uma Queda em anos recentes. No último mês, O Agente Secreto participou da seleção oficial de dois festivais cruciais para premiações como o Oscar – TIFF (Festival de Toronto) e Telluride, onde foi novamente bem recebido. E por mais que seja rechaçado por parte da crítica, o famigerado agregador de críticas Rotten Tomatoes segue com 100% para o longa que já possui mais de 40 resenhas publicadas no site.
Sim, O Último Azul também tem em Rodrigo Santoro uma estrela brasileira conhecida mundialmente e prêmios de festivais prestigiosos, com o Urso de Prata em Berlim no começo do ano, e Manas levou Melhor Direção numa mostra paralela ao Festival de Veneza (de 2024). Nenhum deles, porém, tem uma dupla de ator/diretor já tão celebrada fora do país, conquistas tão relevantes quanto as de Cannes – que nos últimos anos virou o principal festival precursor do Oscar – e a força de uma distribuidora (e responsável pela campanha) NEON para o lançamento nos EUA, o território mais importante para a Academia.
Falando assim, pode parecer que estamos chovendo no molhado, mas a verdade é que as coisas nunca são simples nos bastidores da Comissão Brasileira, onde – como no Oscar – há narrativas e influências bem particulares. Em conversas com fontes que estão acompanhando o processo de seleção, ficou claro para o Omelete que a disputa está acirrada, particularmente entre Agente Secreto e Manas, que recentemente recrutou Sean Penn como produtor executivo. E faz parte, todos os candidatos têm o direito de criar suas próprias estratégias e se esforçarem em busca do objetivo. Mas cabe à Comissão fazer o melhor pelo cinema brasileiro, um campo que já sofreu muito, e que hoje se beneficiaria muito de continuar vivendo o momento iniciado por Ainda Estou Aqui ano passado.
Crítica: Manas mostra o Brasil que ninguém queria ver, mas deveriaÉ possível ir além. O Brasil largou atrás na corrida. O Agente Secreto já devia ter sido selecionado. Como falou nosso colega Waldemar Dalenogare, outros países como Alemanha (com Sound of Falling) e Noruega (com Sentimental Value) não só já escolheram seus filmes, como também estão fazendo essas campanhas. Existe uma crença – equivocada, creio – de que o Brasil poderia escolher outro filme e confiar na NEON para fazer a campanha do Agente. Mas se o estúdio ver que nem mesmo o próprio país investe no filme, por que eles não apostariam só em Sentimental Value, que é deles, ficou com o segundo maior prêmio de Cannes e tem todo o apoio da Noruega?
Serei honesto: para mim, O Agente Secreto é o melhor dos seis candidatos (mas Oeste Outra Vez não fica muito atrás). Independente disso, neste momento é preciso deixar as preferências de lado e olhar para o contexto e condições de cada candidato para conseguir uma vaga no Oscar, e assim tomar a decisão ideal. O cinema brasileiro teve 12 meses fantásticos desde a estreia de Ainda Estou Aqui, com hits à torta e direita vindo dos mais diferentes longas. De O Auto da Compadecida 2 a Homem com H, passando por Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa, e assim vai. Ainda Estou Aqui quebrou certas barreiras que o brasileiro tinha com seu cinema, e outros lançamentos se beneficiaram disso. Estamos acelerando. Não é hora de parar.
Colocar outro filme brasileiro no Oscar agora seria acionar o modo “turbo” nessa corrida. Ainda Estou Aqui parou as redes sociais, fez o Oscar tirar o Carnaval da TV aberta brasileira, e resultou num prêmio sem precedentes. Não é que Manas ou O Último Azul, por exemplo, seriam exemplos ruins do que o cinema nacional tem a oferecer, mas O Agente Secreto tem uma presença internacional que não é facilmente recriada, e por isso oferece as melhores chances de um repeteco, pelo menos em termos de indicações.
Certa vez, uma pessoa que trabalha no mercado nacional disse ao Omelete que se Ainda Estou Aqui foi uma final de Copa do Mundo para o brasileiro, começar a disputa com O Agente Secreto seria, no mínimo, uma semifinal. Eu não sei você, mas não estou muito confiante na capacidade da Seleção de chegar na semifinal da Copa em 2026, mas no Oscar? Com O Agente Secreto, conseguimos.
Fonte: Omelete // Guilherme Jacobs