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O Diabo de Cada Dia | "A violência do filme não é tão radical", diz o diretor

Publicado em 16/09/20 13:00

A Netflix estreia nesta semana o filme O Diabo de Cada Dia, que deve chamar a atenção por colocar Tom Holland e Robert Pattinson em papéis de sotaques carregados e uma trama violenta ambientada no Meio-Oeste americano. Em entrevista ao Omelete, o diretor Antonio Campos fala sobre a expectativa da estreia e o tom da adaptação.

Com um português esforçado, Campos, que é americano, filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes, começa falando sobre a ambientação do filme inspirado no livro O Mal Nosso de Cada Dia, de Donald Ray Pollock. sobre acasos que juntam um veterano de guerra, seu filho, um pastor abusador e um casal de serial killers na região rural entre o Sul de Ohio e West Virginia.

"Eu queria rodar em Ohio mas precisava que fosse no clima quente, e por conta da agenda de um ator precisei mudar a filmagem para fevereiro, quando Ohio é muito frio, então as cenas são na verdade no Alabama. Ainda assim, desde 2015, eu ia todos os anos para Ohio e West Virginia e sabia o que eu estava procurando, e no fim tentei achar esses lugares no Alabama", conta. Os sotaques da região são parte essencial do filme e Pollock colaborou nesse processo. "Ele pessoalmente gravava umas falas de personagens para o elenco ter uma ideia de como é o sotaque de Ohio, fez isso com amigas do local para as atrizes usarem de referência, e também com pessoas de West Virginia. A gente fez muito um trabalho com o Rick Lipton, que é o técnico de dialetos do Tom Holland, mas também trazendo essas pessoas que moram nesses locais." 

Pollock cresceu em Knockemstiff, onde a trama se passa, e faz o narrador do filme. "A voz dele funciona como música no filme. Eu e meu irmão escrevemos o roteiro sem definir os trechos de narração, inicialmente, porque queríamos entender quais os pontos em que isso seria necessário depois. Mas eu já sabia que eu queria o Don como narrador. Pra mim ele é esse lugar, Knockemstiff, ele conhece todo mundo na história de um jeito que ninguém mais conheceria. Eu não tinha um plano B se ele recusasse, e quando convidei ele aceitou. E depois se dispôs a gravar todos os takes de narração que eu pedi", lembra Campos. 

Em relação ao teor de violência da história, a possibilidade de trabalhar com a Netflix - cujas produções são mais permissivas com conteúdo adulto por conta da classificação etária em streaming - ajudou o diretor. "Eu não acho a violência do filme tão radical. Às vezes você vê uns filmes de ação com uma preocupação com body count, 100 mortos, e aqui a gente tem seis pessoas que morrem [risos]. A coisa é que você conhece os personagens e quando eles morrem você sente, é chocante. Você sente mais a violência por isso, mas olhando isoladamente o filme não é tão gráfico. Era importante, claro, que o filme fosse violento, e estava tudo no roteiro desde o começo, então eu precisava de um apoio que aceitasse o filme desse jeito. A Netflix pediu para aliviar umas duas coisas, sugeriu que eu fizesse de um outro jeito, e eu disse que tudo bem. Minha ideia não era fazer um filme gore, um 'filme violento', mas um filme em que a violência se sentisse real. Eu concordei em mudar essas duas coisas que tinham ficado um pouco mais gore mesmo."

Campos não cria expectativas em relação à recepção, porém. "Nunca sei o que vai acontecer quando eu lanço um filme, o que as pessoas podem pensar. Eu tentei criar uma experiência forte e singular num mundo estranho, cheio de mistério, mas sei que é um filme difícil, porque tem muita violência e personagens complicados. Ao mesmo tempo tem humor, e essa figura muito especial que é o narrador, feito pela própria pessoa que escreveu o livro, o que é raro de acontecer. Espero que as pessoas gostem, e vejam esses atores que eles adoram em um filme diferente do que eles costumam fazer", diz o diretor.

O Diabo de Cada Dia, filme com Tom Holland e Robert Pattinson, ganha trailer

Campos escreveu o roteiro ao lado de seu irmão Paulo CamposO elenco também conta com Bill SkarsgardEliza Scalen (Objetos Cortantes), Mia Goth (Suspiria), Riley Keough (Mad Max: Estrada da Fúria), Jason Clarke (Planeta dos Macacos) e Tracy Letts (The Sinner), entre outros.

O Diabo de Cada Dia | Crítica

Fonte: Omelete // Marcelo Hessel

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