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O trágico caso da mãe acusada de deixar a filha doente para receber atenção

Publicado em 20/07/23 13:00

O documentário O Mistério de Maya chegou recentemente à Netflix e tem impressionado os espectadores. A produção conta a triste história real da família Kowalski contra o sistema de saúde americano e a Justiça.

O caso aconteceu em 2021 e, após diversos desdobramentos - alguns trágicos - seus parentes processaram o Hospital Johns Hopkins All Children, o qual eles alegam tê-la "aprisionado".

Como começou?

Maya, agora com 17 anos, começou a sentir sintomas inexplicáveis, como fraqueza muscular e sensação de queimação quando tinha nove anos. Eles tiveram início após a menina ter uma crise de asma bastante severa em 2015. As informações são do The Cut.

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Os sintomas persistiram, e os pais de Maya, Jack e Beata — que era enfermeira —, a levaram para ser examinada por médicos de todo o país, que procuravam respostas.

Eles encontraram o Dr. Anthony Kirkpatrick, um anestesiologista especializado em síndrome da dor regional complexa (SDRC). O médico diagnosticou Maya com a rara síndrome, o que foi confirmado por dois outros especialistas. As informações são do Sarasota Herald-Tribune.

Pacientes com SRDC podem sentir dores intensas e fora de proporções.

Kirkpatrick iniciou o tratamento da jovem com baixas doses de cetamina, mas não surtiram efeito.

O médico recomendou um tratamento que deixasse Maya em coma por cetamina por cinco dias, um procedimento que só poderia ser realizado no México. Após algum tempo de recuperação, a terapia pareceu fazer efeito e colocou os sintomas da jovem em remissão.

Maya voltou a ter os sintomas em outubro de 2016. Ela foi levada pelo pai ao Hospital Johns Hopkins All Children, em St. Petersburg, na Flórida.

Maya e sua mãe, Beata, que morreu em 2017
Imagem: Divulgação/ Netflix

O que aconteceu?

Ao dar entrada no hospital, a mãe de Maya foi denunciada por abuso infantil e perdeu a guarda da filha.

Como o tratamento com altas doses de cetamina tinha dado certo para aliviar a dor, os Kowalski pediram à equipe médica que administrasse mais do medicamento. A solicitação foi "ignorada", mesmo com a confirmação dos especialistas em SDRC.

Parecia que eles não queriam ouvir o que estávamos tentando dizer a eles.
Disse Jack Kowalski ao Herald-Tribune.

Confusos com a explicação de Beata Kowalski sobre o tratamento da filha, os médicos a denunciaram por abuso infantil. A acusação foi retirada depois que os especialistas que cuidavam regularmente de Maya confirmaram seu diagnóstico.

Um psiquiatra perito em pediatria e abuso de menores, Dra. Sally Smith, foi chamado para analisar o caso.

Smith revisou os registro hospitalares de Maya, conversou com os médicos da garota e acabou diagnosticando Beata com síndrome de Munchausen por procuração.

Esta é uma variação da Síndrome de Münchausen, transtorno em que um paciente simula sintomas de doença para obter compaixão e atenção médica. No caso de "por preocupação", a pessoa a cargo do paciente (pais ou cuidadores) fabrica esses sintomas ou provoca doenças, também na tentativa de chamar atenção para si. Esse tipo de caso é considerado uma forma de abuso infantil e pode gerar não apenas intervenções médicas desnecessárias e potencialmente perigosas. As informações são de VivaBem.

Maya Kowalski em um dos julgamentos do caso envolvendo sua família
Imagem: Divulgação/ Netflix

Com o diagnóstico feito por Smith, o hospital se recusou a devolver Maya aos pais e abriu um segundo processo de abuso infantil ao Departamento de Crianças e Famílias. Assim, o tribunal concedeu ao estado da Flórida a custódia temporária de Maya.

Após 90 dias longe da filha, Beata cometeu suicídio, em janeiro de 2017, aos 43 anos. Documentos analisados pela Insider mostram que a mãe disse ter sentido "depressão, fadiga e uma sensação avassaladora de desesperança" nos meses anteriores à sua morte.

Uma psicóloga independente nomeada pelo tribunal, Tashawna Duncan, apresentou sua avaliação logo após a morte de Beata e concluiu que não havia "nenhuma evidência" para apoiar a ideia de que mãe inventava os sintomas de Maya.

Uma semana após a morte de Beata, a menina teve custódia devolvida ao pai.

O que família fez?

O processo da família Kowalski contra o hospital sustenta que os médicos agiram de má-fé.

Sally Smith, a assistente social do caso, o hospital e a empresa terceirizada Suncoast Center Inc., responsável pela contratação de Smith, foram processados. Sally e a Suncoast já entraram em acordo com a família por um valor de US$ 2, 5 milhões, cerca de R$ 11,9 milhões.

O julgamento está programado para começar em 14 de setembro de 2023. Os advogados da família buscam U$ 55 milhões em danos compensatórios e U$ 165 milhões em danos punitivos contra o hospital.

Como está Maya hoje?

A garota tem administrado a síndrome com fisioterapia e analgésicos.

Maya faz o possível para manter a sua história e a de sua família viva.

Fonte: UOL Cinemas // Fernanda Talarico;

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