Produtora de filme de Bolsonaro tem contrato de R$ 100 mi com prefeitura de SP
Publicado em 11/12/25 10:00
A produtora de Dark Horse, filme biográfico do ex-presidente Jair Bolsonaro estrelado por Jim Caviezel (A Paixão de Cristo), assinou em 2024 um contrato de mais de R$ 100 milhões com a prefeitura de São Paulo (SP), liderada por Ricardo Nunes (MDB). A informação é do Intercept Brasil.
De acordo com a investigação do veículo, a empresária Karina Ferreira da Gama é dona tanto da Go Up Entertainment (principal produtora de Dark Horse) quanto da Instituto Conhecer Brasil, uma ONG contratada pela gestão Nunes para instalar pontos de wi-fi gratuitos em comunidades de baixa renda em São Paulo.
Dark Horse | Filme de Bolsonaro com Jim Caviezel grava cenas de atentadoO Conhecer Brasil foi a única ONG a apresentar proposta à licitação da prefeitura para o projeto, publicada em julho do ano passado. O valor de R$ 108 milhões foi acertado entre as partes, e um adiantamento de R$ 26 milhões foi realizado antes mesmo que o serviço fosse prestado, em troca da agilização da instalação de alguns dos 5 mil pontos de wi-fi propostos pelo projeto, a tempo das eleições municipais que deram a Nunes um segundo mandato na prefeitura.
Segundo o Intercept, após as eleições o ritmo de instalações diminuiu, e até o momento apenas 3.200 dos 5 mil pontos foram estabelecidos pela cidade. O preço do contrato também é colocado em dúvida diante de comparações com outros projetos semelhantes: no fim de 2023, a prefeitura de SP contratou o Prodam (a empresa municipal de informação e tecnologia) para instalar quase 11 mil pontos de wi-fi em unidades educacionais, por R$ 125 milhões.
Karina Ferreira da Gama, a empresária que administra a Go Up Entertainment e o Instituto Conhecer Brasil, opera ambos os CNPJ (e ainda outros) a partir de um mesmo endereço, um espaço de coworking na Avenida Paulista. O Conhecer Brasil não tinha nenhuma experiência prévia com instalação ou manutenção de pontos de wi-fi antes de sua contratação pela gestão Nunes.
Mais uma conexão entre as duas empresas vem por meio de Mario Frias, deputado e ex-Secretário Especial da Cultura no governo Bolsonaro. que destinou mais de R$ 2 milhões para o Conhecer Brasil ainda este ano, para projetos bem diferentes: um de incentivo ao esporte, e outro de letramento digital. Nenhuma das duas iniciativas, no entanto, aparecem no site oficial do Instituto. Frias, enquanto isso, é também autor do roteiro de Dark Horse, além de ter um pequeno papel no filme.
Por fim, o Intercept aponta que outra das empresas de Gama, nomeada Academia Nacional da Cultura, recebeu em 2024 mais de R$ 2.6 milhões em emendas Pix de deputados como Alexandre Ramagem, Carla Zambelli, Bia Kicis, Marcos Pollon e Gil Diniz, todos ligados ao bolsonarismo. O objetivo era produzir uma série documental intitulada Heróis Nacionais, que até agora não viu a luz do dia.
Em resposta ao Intercept, o Conhecer Brasil disse que "não há ligação" entre os projetos realizados para Frias e para a Prefeitura de SP, e garantiu que "cada recurso recebido [pela organização] possui destinação específica, com aplicação vinculada exclusivamente ao objetivo aprovado". "Todas as nossas ações seguem rigorosamente os termos contratuais, a legislação vigente e as diretrizes dos órgãos de controle".
A prefeitura, por sua vez, declarou que "considera irresponsável qualquer associação entre as autorizações mencionadas para as filmagens [de Dark Horse]" e o programa WiFi Livre SP, que definiu como "fundamental por dar acesso à internet a milhares de famílias vulneráveis". A gestão Nunes ainda afirmou que a produção do filme não recebeu recursos públicos, nem tem parceria com a SPCine, empresa municipal de apoio à produção cinematográfica.
Dark Horse | Filme de Bolsonaro com Jim Caviezel grava cena da facada; vejaTudo sobre Dark Horse
Em Dark Horse, Jim Caviezel interpreta o ex-presidente Jair Bolsonaro, que atualmente cumpre pena em regime fechado após ser condenado a 27 anos e três meses de prisão por organização criminosa armada, golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, dano ao patrimônio público qualificado pela violência e grave ameaça, e deterioração de patrimônio tombado.
No elenco ainda estão Lynn Collins (John Carter – Entre Dois Mundos), Esai Morales (Missão Impossível 8), e Felipe Folgosi como um policial federal. A obra é dirigida por Cyrus Nowrasteh (O Jovem Messias) e informações apontam que o roteiro foi escrito por Mário Frias, que foi Secretário Especial da Cultura no governo Bolsonaro.
Segundo o Metrópoles, uma versão do roteiro obtida descreve cenas de ação ambientadas na Amazônia, envolvendo confrontos contra cartéis de droga ao lado de indígenas e xamãs. Outras informações dizem que o filme será focado no atentado que o ex-presidente sofreu em 2018, quando foi esfaqueado durante evento de campanha.
Ainda não há data de estreia definida para Dark Horse.
Fonte: Omelete // Caio Coletti