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'Inferno': documentário aborda o maior escândalo sexual da Coreia do Sul

Publicado em 12/08/22 05:00

Já faz alguns anos que os olhos do mundo todo estão voltados para a Coreia do Sul, país que avança sobre as paradas musicais com o k-pop em alta e o sucesso do seu cinema. No entanto, um documentário lançado globalmente repete "Parasita" (2019) e trata de um aspecto não tão elogioso na história da nação asiática.

Se no filme ganhador do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2020 o plano de fundo é a desigualdade social, o documentário "Cyber Hell: Exposing an Internet Horror" ('Inferno cibernético: Expondo um Horror da Internet', em tradução livre') fala sobre como a tecnologia tão presente na Coreia do Sul foi usada para o mau, sendo parte do maior escândalo sexual da história do país.

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O caso ocorreu entre 2018 e 2020 e foi baseado em venda online de pornografia e chantagem. Muitas vítimas eram menores de idade, o que obrigou a produção do filme a utilizar nomes fictícios.

Tudo começava quando um desconhecido, usando o apelido de Godgod, entrava em contato com meninas e dizia que fotos comprometedoras delas tinham vazado na internet. Depois, as ameaçava de mostrar para pessoas de seu convívio, como familiares e colegas de escola. Este homem as obrigava a baixar o aplicativo de mensagens criptografadas Telegram. Assim, se iniciava um pesadelo na vida dessas garotas.

Além de Godgod, havia também Baksa, outro homem que atraía mulheres para o esquema ao oferecer oportunidades de emprego como modelo. Para serem aprovadas, ele dizia que era preciso enviar fotos nuas, que depois eram usadas como chantagem.

Chamadas de "escravas", elas eram colocadas em grupos de conversas com milhares de usuários e eram obrigadas a fazerem o que lhes era mandado. Caso contrário, elas eram ameaçadas com informações pessoais delas, como nomes completos e endereços — informações obtidas pelo rastreio do IP das vítimas. Ao todo, o esquema contava com cerca de 260 mil consumidores destes conteúdos.

Foram mais de 100 mulheres — 26 menores de idade — coagidas a mandar fotos nuas e com seus rostos à mostra. Com o passar do tempo, os pedidos ficavam cada vez piores, como vídeos explícitos de masturbação e sexo e até mesmo se mutilando.

O esquema foi descoberto em 2019, quando o caso chegou aos grandes veículos de mídia do país. Assim, começou a se desmantelar o golpe que ficou conhecido como Enésima Sala, como era chamado um dos grupos que os criminosos usavam.

"Cyber Hell: Exposing an Internet Horror" acompanha as pessoas que conseguiram expor todo o horror que acontecia de maneira virtual. Jornalistas e detetives descobriram sobre a existência dessas salas de bate-papo e se infiltraram para descobrir mais detalhes.

Os conteúdos lá compartilhados eram de mulheres e meninas, algumas com menos de 15 anos. Para se manter nesses grupos, alguns usuários chegavam a pagar até mesmo US$ 1,2 mil por mês, algo como R$ 6,1 mil na cotação atual.

Ao perceberem que foram descobertos, os administradores desses grupos começaram a obrigar as vítimas a fazerem coisas cada vez piores, chegando até mesmo a incitarem o suicídio de uma garota. Neste caso, a polícia foi acionada e a jovem foi salva.

Os condenados

Em março de 2020, a identidade Baksa finalmente foi descoberta: se tratava de Cho Ju-Bin, um universitário de 25 anos que foi sentenciado a 42 anos de cadeia por seus crimes sexuais, como filmar, vender e compartilhar pedofilia.

Godgod também foi descoberto: era Moon Hyung-wook, um estudante de 24 anos condenado a 34 anos de prisão por coagir e abusar de mulheres. Quanto aos participantes das salas, a polícia sul-coreana não revelou detalhes, o que se sabe é que cerca de 3 mil pessoas foram ligadas aos crimes.

Após a resolução do caso, a legislação coreana sofreu algumas mudanças, como a revisão da lei de Punição à Violência Sexual que condenava a até três anos de cadeia quem possuir, comprar, armazenar ou ver fotos sexuais ilegais. Mesma pena foi aplicada a aqueles que usam imagens para coação ou chantagem.

"Cyber Hell: Exposing an Internet Horror" é dirigido por Jin-seong Choi e, diferente do que estamos acostumados com as produções de true crime — sobre crimes reais —, o documentário não conta com reviravoltas ou recursos narrativos. Ao contrário: a história é contada com bastante calma e nos mínimos detalhes, fato que dá a falsa impressão ao título de que a narrativa não avança.

Na verdade, se trata de esmero e cuidado. Assim, a produção da Netflix não tenta ser um entretenimento, pois pela construção do roteiro, com tantas explicações e detalhes, fica explícito que o objetivo é informar o público sobre os horrores do maior escândalo sexual da Coreia do Sul.

Fonte: UOL Cinemas // UOL

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