FILMES NO CINEMA

Filme que representa o Brasil no Oscar é 'brega pra ca****', diz diretor

Publicado em 25/11/21 05:00

"Deserto Particular", filme que chega hoje aos cinemas brasileiros, surpreendeu ao público ao ser o indicado pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais como o filme a representar o país no Oscar 2022, na categoria Melhor Filme Internacional.

A notícia foi um choque também para o diretor Aly Muritiba, responsável pelo filme. "Recebi a notícia com bastante surpresa, mesmo sabendo da potência que ele tem", conta em entrevista a Splash. "O filme é um abraço, um acalanto para este momento que vivemos, por isso eu intuía que seria um bom filme para a premiação. Ele mostra um Brasil diferente do que vemos no noticiário."

Para o cineasta baiano, o indicado seria "7 Prisioneiros", título da Netflix estrelado por Rodrigo Santoro e Christian Malheiros.

Eu sabia que tinham outros 14 filmes muito bons que também concorreriam. E eu achava de verdade que ia rolar para o '7 Prisioneiros', todo mundo estava me dizendo isso.

Alerta de Spoiler Splash
Imagem: Arte UOL

Uma história de amor

O longa acompanha o policial Daniel (Antonio Saboia), que mora em Curitiba (PR) e se apaixona virtualmente por Sara, de Sobradinho, na Bahia. Ao não ver mais sentido em sua vida, o homem decide dirigir até a amada, no entanto, Sara na verdade é Robson (Pedro Fasanaro).

O diretor Aly Muritiba
Imagem: Divulgação

A trama surgiu de um argumento criado em 2016 por Henrique dos Santos, quem divide o roteiro com Muritiba. Segundo o diretor, a narrativa era de um filme dramático. Porém, com o passar dos anos, a história foi se modificando.

"A gente entrou em uma espiral de ódio, disputas e brigas lá por volta de 2018 e aquilo estava me adoecendo", conta o diretor. "Terminei amizades, cortei relações com parentes... E eu, me tornando uma pessoa pior. E isso coincide com a hora que estávamos reescrevendo 'Deserto Particular', quando eu me apaixonei por uma pessoa — que sigo apaixonado até agora."

Vi como o amor me fazia bem e me curava, então propus transformar em uma história de amor. Queria falar sobre encontro, amor e afeto, com personagens diferentes que encontram pontos de contato e escuta.

Para Muritiba, o sentimento mostrado em 'Deserto Particular' vai além da formação de um casal. "Trazemos um amor mais profundo, menos egoísta, que se felicita com a felicidade do outro, mas também deixa ir."

Daniel busca Sara em 'Deserto Particular'
Imagem: Divulgação

E esse sentimento positivo, de se enamorar por algo, permeia também o objetivo do longa para o diretor, que conta adorar ouvir os espectadores dizerem a ele: "estou apaixonada por este filme". "Nos esforçamos muito para apaixonar as pessoas."

Além disso, o diretor acredita que "Deserto Partcular" é um "filme brega pra cacete", pois além de falar de amor toca Barões da Pisadinha e Bonnie Tyler".

O encontro de Sara

Sara e Robson são vividos por Pedro Fasanaro, mas a revelação de que a personagem é na verdade um homem acontece apenas no meio do filme, mesmo que algumas "pistas" avisem sobre isso antes. No entanto, a possibilidade do espectador descobrir antes nunca incomodou Aly Muritiba.

Quando começamos a corporificar Sara, algumas pessoas diziam: 'tá linda, mas tá na cara'. E eu respondia: o filme não é sobre isso.

O diretor conta ter filmado Sara antes de gravar as cenas de Robson, por uma questão de corte de cabelos. Só quando as cenas da personagem se encerraram que o encontro do casal foi filmado. "Durante todo o processo de preparação, os atores de Sara e Daniel não se viram, eles fizeram todos os ensaios vendados."

Eles se viram a primeira na vez na cena que Daniel vê Sara pela primeira vez. Quando eu gravei o primeiro take, a equipe estava aos prantos, porque é sobre o quanto este cara está encantado por essa mulher.

Sara em 'Deserto Particular'
Imagem: Divulgação

Recepção

Para Aly Muritiba, o público brasileiro gostará de "Deserto Particular" e está bastante otimista, afinal o filme ganhou prêmio no Festival de Veneza e foi ovacionado por 10 minutos seguidos.

Mesmo com a temática que aborda questões LGBTQIAP+, o diretor entende que sua obra não "fala apenas para convertidos".

Você passa dois anos trancado em casa por casa da pandemia, sem conhecer gente nova, sem viajar, sem beijar na boca. E aí você está vacinado, vai ao cinema e assiste ao 'Deserto Particular', um filme que os personagens viajam, se tocam, se apaixonam, se beijam, gozam. Os personagem estão fazendo tudo o que nos foi tirado nos últimos dois anos.

Fonte: UOL Cinemas // Fernanda Talarico

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