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Lata velha? Ultraman volta repaginado em versão anime para geração Netflix

Publicado em 01/04/19 05:00

Um dos maiores heróis da geração que hoje tem seus 40/50 anos está de volta para tentar conquistar um público que nem era nascido quando os "gigantes" dominavam a programação da televisão infantil.

Ultraman, o robô alienígena que enfrentava monstrengos do seu tamanho em batalhas épicas sobre maquetes das ruas da Tóquio dos anos 60, ganhou um visual totalmente repaginado para estrear hoje, mundialmente, na Netflix.

Saem as roupas de látex e efeitos especiais toscos do enlatado da década de 60 (um dos principais exemplares do que ficaria conhecido como "tokusatsu", seriados japoneses de ação em live-action), entra uma animação em computação gráfica 3D mais apropriada para a geração videogame.

Baseada em um mangá que começou a ser publicado em 2011, a história também é novinha em folha para a maioria dos fãs. Em vez de Shin Hayata, o membro da Patrulha Científica que se fundia a uma força alienígena para se transformar no Gigante de Luz Ultraman, quem comanda a aventura agora é Shinjiro Hayata, filho adolescente do herói original.

A nova série se passa décadas depois do primeiro arco de "Ultraman" na TV - de lá para cá, na verdade, foram dezenas de diferentes encarnações, nem todas populares no Brasil.

Supostamente livre dos inimigos externos que a ameaçavam no passado, a Terra já não precisava mais de Ultraman, que havia voltado a seu planeta. Aparentemente sem memória dos seus tempos de Gigante de Luz, Shin Hayata é agora um experiente membro da Patrulha Científica e se orgulha de mostrar os feitos do time ao pequeno Shinjiro.

Numa visita ao laboratório da Patrulha, Shinjiro se envolve em um grave acidente e seus poderes - entre eles força e resistência descomunais - acabam vindo à tona. É a deixa para que o pai recobre também a consciência, e a Patrulha comece a se preparar para o desabrochar de um novo Ultraman.

Pôster japonês da nova série "Ultraman"; herói terá companhia de amigos vestindo armaduras Imagem: Reprodução

Para além do visual, eis uma das diferenças fundamentais da nova série com relação à antiga: Ultraman não é mais um gigante (nem seus inimigos), mas um humano qualquer que se transforma no herói quando veste a armadura. Más línguas vêm comparando o look do herói repaginado ao Homem de Ferro desde que saiu o trailer da série, mas a verdade é que o traje tem também seu pedigree -- nasceu da colaboração entre I.G. Productions, estúdio responsável pelos filmes e série de "Ghost in the Shell", e Sola Digital Arts, do longa "Appleseed".

A união de forças e o trabalho de 2 anos e meio de produção saltam aos olhos. No lugar das lutas lentas e desajeitadas com monstrengos quase risíveis do seriado antigo, o que se vê no novo "Ultraman" são combates acelerados, realistas. As cenas de ação foram filmadas com atores reais, por 30 câmeras, em um estúdio de motion capture ("mocap") construído especialmente para a série. As tomadas são então trabalhadas no computador e misturadas a um desenho animado que lembra, por vezes, o estilo das animações japonesas.

"No início da produção e ainda hoje a gente se perguntava se podia ou não chamar de anime", admite Kenji Kamiyama, um dos dois diretores da série, em conversa com o UOL e um pequeno grupo de jornalistas no estúdio de Tóquio.

Saudoso da série original -- "Era tudo muito novo, as manhãs de domingo viravam Dia de Ultraman" --, Shinji Aramaki, outro dos dois diretores do novo "Ultraman", explica por que tiveram de mandar os antigos robôs e aliens gigantes literalmente para o espaço.

Um dos monstros mais populares da série original, Bemlar (ou Bemular) está de volta como vilão no anime Imagem: Divulgação/Netflix, Reprodução

"Nós japoneses, desde pequenos, estamos acostumados a admirar esses personagens que crescem. Gostamos de gigantes, basta ver as estátuas de Buda. Mas o público internacional não é assim - talvez, com exceção do Brasil, onde vocês adoram o Cristo do Rio", brinca.

"Se queremos apresentar um novo herói, o realismo é um aspecto importante se você pensa nessa nova geração"
Haruyasu Makino, produtor

Espectadores de primeira viagem também vão notar algum parentesco entre Shinjiro, o jovem Ultraman, com Peter Parker/Miles Morales, o Homem-Aranha. Ainda nos primeiros episódios, quando descobre seus superpoderes, Shinjiro resolve entrar num beco, subir no topo de um prédio e realizar alguns saltos livres para testar suas habilidades. Sem falar no pano de fundo de um estudante de colégio, meio fracote, sem qualquer qualidade especial...

Shinjiro Hayata: um adolescente dividido entre os problemas no colégio e a missão de salvar o mundo Imagem: Divulgação/Netflix

"Sim, há coincidências, mas a gente ainda está no começo da história dele!", atesta Aramaki, prometendo voos completamente diferentes no futuro. "Será uma história de amadurecimento, um drama humano, com questionamentos sobre o que é ser um herói e por que usar os poderes para fazer o bem", emenda Kamiyama.

Seja como for, o fato é que há inegável sintonia entre o salto que o Aranha deu recentemente nos cinemas, na fantástica animação "Spiderverse", vencedora do Oscar este ano, e a jogada ousada dos japoneses com seu "Ultraman" em CGI.

"Vimos 'Spiderverse' no ano passado e falamos: um novo futuro está chegando. As pessoas estão buscando algo novo, misturando 2D e 3D. A verdade é que, ao contrário do que se podia imaginar, as formas de expressão aumentaram muito com as novas tecnologias", entusiasma-se Aramaki. Haruyasu Makino concorda: "'Spiderverse' é a prova de que é possível fazer um casamento feliz entre o 2D e o CG".

Resta conferir se o novo Ultra será capaz de reaquecer o coração peludo dos velhos fãs ou se acertará o alvo na mosca e dará "match" com os jovens e adolescentes da geração Netflix.

* O jornalista viajou a convite da Netflix

Fonte: UOL Cinemas // Diego Assis

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