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Sandman é a série perfeita para irritar o espectador conservador

Publicado em 06/08/22 05:00

A HQ "Sandman" foi lançada em 1988 e, escrita por Neil Gaiman - também responsável por "Deuses Americanos" - ganhou uma legião de fãs com o passar dos anos. O quadrinho conta a história de Morfeu, o "Deus do Sonho", que é aprisionado por um homem que tentava comandar a morte. A partir deste evento, a narrativa se desenrola.

Com tanto sucesso, os fãs da obra esperaram por muito tempo para que uma adaptação acontecesse, algo que nunca vingava. A desesperança dos admiradores da história virou alegria quando a Netflix transformou a aventura fantástica em uma série, já disponível na plataforma.

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No entanto, repetindo o que outras adaptações fizeram, os responsáveis pela série de "Sandman" tocaram nas feridas ao atualizar a história e fazer adaptações para contemplar questões atuais, inclusa uma maior perspectiva de diversidade.

Assim, a série tem tudo para não agradar os fãs mais conservadores ou os mais apegados aos personagens originais.

Alguns personagens que eram brancos na trama original, se tornaram negros na série. Foi o que aconteceu com a Morte, interpretada por Kirby Howell-Baptiste. Além dela, há também o caso do bibliotecário Lucien, que se tornou Lucienne na série e é interpretado por Vivienne Acheampong, uma mulher negra.

Neil Gaiman, autor de 'Sandman', criou a HQ em 1988
Imagem: Reprodução

Em entrevista a Splash, a atriz conta que não se preocupou com a recepção do público sobre a troca de gênero do personagem. "Fui escalada e me disseram que esta é o personagem. E eu acabei me baseando nos quadrinhos para entender: qual é a essência dele? O que ele quer? Então, foi uma experiência emocionante e maravilhosa viver essa versão de Lucienne."

A bibliotecária não foi a única troca de gêneros que aconteceu na adaptação: Lúcifer e John Constantine - o famoso detetive do sobrenatural - também são interpretados por mulheres na série da Netflix.

Se Acheampong não estava preocupada com a reação do público, Jenna Coleman, que vive Johanna Constantine, nem mesmo pensou no assunto. "Para ser honesta, não passou pela minha cabeça, porque é irrelevante. Não é como se o personagem não pudesse nunca mudar. Tudo foi reimaginado."

Acho que era inevitável que essa mudança acontecesse, justamente para poder criar essa conversa.

"Mas, para ser honesta, acho que gostei tanto de entrar no mundo de 'Sandman' que não deixei que isso ocupasse muito meus pensamentos", concluiu a atriz. O elenco conta também com Mason Alexander Park, artista não binário que interpreta Desejo, um personagem que não conta com características de gênero definidas.

Tom Sturridge e Mason Alexander Park em cena de 'Sandman'. Na série, são Sonho e Desejo, respectivamente.
Imagem: Divulgação/ Netflix

Para o protagonista Tom Sturridge, que interpreta o próprio Morfeu, o Deus do Sonho - um dos únicos que ficou extremamente fiel ao personagem dos quadrinhos -, a presença do criador Neil Gaiman como produtor da adaptação foi o que mais ajudou a situá-la no cenário atual, cada vez mais inclusivo.

"Ele quis fazer 'Sandman' em 2021. Para isso, ele pensou: 'Estou começando 'Sandman' novamente. Há algo que eu faria diferente?', e a resposta é que se trata de uma obra-prima, mas há coisas que ele decidiu fazer diferente. Ele quis trazer isso para a cultura contemporânea, pois se ele trouxesse de outra maneira, pareceria uma mentira."

Neil sempre esteve na vanguarda e mesmo naquela época, da exploração e das ideias de gênero ou sexualidade da representação das mulheres.

Ao ser questionado sobre as maiores mudanças para a adaptação, Neil Gaiman acredita que foram as temporais.

"Ao invés de Morfeu ter escapado de onde estava preso em 1988, ele escapa em 2022. É basicamente isso, que nos levou a precisar modernizar a história. De resto, 'Sandman' já estava 30 anos a frente do seu tempo quando foi lançado como quadrinhos, então está tudo certo, não precisava mais tanto de uma modernização", conclui.

Fonte: UOL Cinemas // UOL

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