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Publicado em 11/05/19 05:00

Responda sem pensar: você se considera babaca? Antes de dizer "não" e ficar ofendido, tente responder às perguntas abaixo.

Você é adepto da "Lei de Gérson" e gosta de levar vantagem em tudo? Caso tenha respondido "sim", você acha que merece tal privilégio? Não importa o que digam sobre ou para você, a chance de admitir que está pisando na bola é zero?

Bingo!

Podemos dizer que você é um babaca estilo clássico --o termo pode variar conforme a intensidade da raiva provocada por suas atitudes ou a região em que você reside.

Nem tudo está perdido: existem formas de combater essa atitude tóxica, que costuma agregar características do psicopata e do narcisista, e algumas estão no documentário "Assholes: A Theory", do diretor canadense John Walker ("Arctic Defenders").

O filme, que está na rota de festivais internacionais e não tem previsão de chegar ao Brasil, é inspirado no famoso ensaio homônimo do filósofo americano Aaron James (2012), que se propõe a radiografar uma figura bem conhecida.

O cineasta canadense John Walker Imagem: NFB/Divulgação

Livro e documentário mostram que babacas coexistem desde os tempos mais primórdios, praticamente sem ser incomodados e nos mais diversos segmentos das sociedades, especialmente nas ocidentais e nas mais propensas à competição.

Eles podem ser artistas, celebridades, pessoas influentes e de reputação ilibada ou apenas um sujeito comum como eu e você. Em ambientes corporativos, encontram terreno fértil e se proliferam como cogumelos em dia de chuva.

Você já teve a impressão de que ser egoísta e ignorar regras de sociabilidade parece ser a única maneira de ascender e ter sucesso na carreira e vida pessoal? Segundo John Walker, é preciso cortar esse mal pela raiz, seja pela educação ou pela implementação de políticas claras dentro das próprias corporações.

Em tempos de descrença latente na classe política, é comum vermos babacas deixando o comando de empresas para assumir os rumos de países e governos. E aí que mora o grande período. Mas o cineasta dá uma notícia pouco animadora à congregação de novos babacas da esfera pública.

Cedo ou tarde, o feitiço tende a se voltar contra o feiticeiro.

UOL - Como surgiu a ideia de fazer um filme sobre o "Assholes: A Theory"?

John Walker - Por algum motivo, uma colega me perguntou se precisava ser um babaca para ser um cineasta bem-sucedido, ou algo assim. Fiquei com aquilo na cabeça e então encontrei o livro com o ensaio. Percebi que ele respondia à pergunta e ia além. O ensaio me inspirou a investigar o assunto.

Caso nosso leitor ainda tenha dúvidas: como identificar um babaca?

Definimos no filme que o babaca é alguém entrincheirado na noção do privilégio. Alguém altivo que não está disposto a ouvir reclamações sobre suas atitudes.

Seria uma criança em forma de adulto?

Gosto de dizer, e isto está escrito no livro, que, nos nossos aniversários, temos a noção do privilégio. Somos paparicados e queremos não só ter um bolo, mas também comê-lo. E todos em nossa volta, amigos e família, sabem e aceitam isso, porque eles também terão seus privilégios no aniversário deles.

E o babaca acha que todo o dia é dia de aniversário

Exatamente! É essa a definição. Ele é mais inteligente que você, mais poderoso que você, e acha que merece atenção especial. Ele se arroga no direito de ter privilégios. Coisas que ele acha que merece, e os outros não.

O que um típico babaca costuma fazer?

Tudo o que deixa os outros irritados. Eles furam filas, por exemplo. Eles te colocam de lado, não importa se a lei diz que todos temos o mesmo direito. Eles não acham que precisam seguir regras.

O filme mostra que é comum babacas estarem no comando de grandes empresas. Por que isso acontece?

As empresas são lugares protegidos em que eles tendem a receber todos os créditos. Quando alguma coisa não dá certo, eles tratam seus empregados como merda. O babaca torna o ambiente de trabalho muito destrutivo. Empresas comandadas por babacas são ambientes de estresse, ansiedade e destruição.

Por que companhias incentivariam esse tipo de comportamento?

Porque ele faz parte de uma cultura maior, a cultura do babaca. Nós temos um exemplo muito bom filme, que é focado em empresas de Wall Street. No final, mostramos que você não precisa ser um idiota para ser bem-sucedido. Contamos história de uma multinacional financeira que tem receitas de US$ 77 bilhões, a Baird, e que instituiu a política do "No Asshole Rule".

O filósofo Aaron James e o cineasta John Walker, que se debruçaram sobre a cultura do babaca Imagem: James Crowley/Divulgação

O que é isso?

Existe um livro sobre isso. Eles simplesmente pararam de contratar babacas e deixaram isso bem claro nos anúncios de vagas. Quando percebiam que haviam contratado um babaca, o demitam em seguida. Não por acaso, eles melhoraram o ambiente e aumentaram sensivelmente os lucros, chegando ao quarto lugar da lista da "Fortune" de melhor empresa para se trabalhar.

E quando o babaca é político?

(risos) O problema dos políticos babacas é que eles dizem aos eleitores o que eles querem ouvir e não entregam o prometido. No fim do processo, terminam se autodestruindo, deixando de ser reeleitos.

O problema crescente de babaquice é que a mídia ama os idiotas. E eles ganham atenção e se empoderam com ela. A atenção encoraja outras pessoas a seguir o exemplo. Precisamos evitar que isso aconteça.

Existe tendência de o babaca ser homem?

Existe. Por que essa cultura inserida na cultura de gênero. As mulheres podem ser difíceis, podem praticar bullying entre elas no ambiente de trabalho. Isso tema ver com a competição, provocação. Mas não costuma existir entre elas a noção do privilégio que é tipicamente masculina.

Por quê?

Por causa da cultura. Para homens, por exemplo, existe a noção do privilégio inclusive sobre mulheres. De que elas estariam sempre à disposição para fazer sexo. É uma cultura antiga e masculina que existe há séculos. Mulheres tiveram de lutar para ter direitos e independência, mas a velha cultura masculina ainda prevalece.

Fonte: UOL Cinemas // Leonardo Rodrigues

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