FILMES NO CINEMA

"A Esposa" é o filme que pode dar a Glenn Close seu primeiro Oscar

Publicado em 10/01/19 05:00

Ao vencer o Globo de Ouro 2019 de melhor atriz em filme dramático, no último domingo (6), Glenn Close disse que a personagem que interpreta em "A Esposa" a lembrava de sua própria mãe.

No filme, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (10), Close assume o papel da mulher de um celebrado escritor que recebe a notícia de que será honrado com o prêmio Nobel de literatura. Para a atriz, filha de um cirurgião bem-sucedido e de uma socialite, a história é pessoal.

"Estou pensando em minha mãe, que realmente se invisibilizou por causa do meu pai a vida toda. Quando estava na casa dos 80 anos, ela me disse: 'Sinto que não conquistei nada'. E isso não era certo", comentou a atriz, emocionada, no palco.

"Sinto que o que aprendi com essa experiência é que as mulheres são cuidadoras, é isso que é esperado de nós. Com sorte, temos nossos filhos, nossos maridos ou parceiros, mas temos que encontrar nossa realização pessoal, seguir os nossos sonhos. Temos que dizer: 'Eu posso fazer isso, e deve ser permitido que eu faça'", completou.

Se Glenn Close estiver entre as indicadas ao Oscar por "A Esposa" (a lista será anunciada no próximo dia 22 de janeiro), esta será a sétima vez que a atriz americana se vê nesta posição -- e, caso o seu nome seja chamado na cerimônia do dia 24 de fevereiro para receber a estatueta, será a sua primeira. Junto a Deborah Kerr e Thelma Ritter, Close é a atriz que mais foi indicada ao Oscar sem nunca ter ganhado.

Para levar o prêmio, ela terá que bater concorrência feroz. Entre as mais cotadas à categoria de melhor atriz ao lado de Close, o destaque é a britânica Olivia Colman, que levou o Globo de Ouro na categoria de comédia ou musical por sua performance como a Rainha Anne em "A Favorita". Lady Gaga ("Nasce Uma Estrela") e Melissa McCarthy ("Poderia Me Perdoar?") também devem aparecer nas indicações.

Glenn Close se emocionou ao receber o Globo de Ouro Imagem: Paul Drinkwater/NBC Universal/Reuters

Um conto de seis indicações

"Quando eu era criança, me sentia como Muhammad Ali, que era destinado a ser boxeador. Eu me sentia destinada a ser atriz", comentou Close no discurso do Globo de Ouro. Sua ilustre carreira, sem dúvida, endossa essa visão.

Close estreou no cinema aos 35 anos. Ela já tinha muita experiência teatral e televisiva quando foi escalada para viver a mãe de Robin Williams (apesar de ter apenas quatro anos a mais do que ele) em "O Mundo Segundo Garp", lançado em 1982.

A estreia na tela grande já rendeu a primeira indicação ao Oscar. No filme de George Roy Hill, Close interpreta Jenny Fields, enfermeira que tem um filho com um soldado ferido na Segunda Guerra Mundial e cria o garoto sozinha, mais tarde lançando um manifesto feminista e se tornando uma celebridade.

A atuação em "Garp" colocou Close no radar de grandes diretores como Lawrence Kasdan e Barry Levinson, que a escalaram em "O Reencontro" (1983) e "Um Homem Fora de Série" (1984), respectivamente. Ela recebeu indicações ao Oscar pelos dois filmes.

O ano de 1984 foi especialmente notável: Close brilhou também em premiações de TV (indicação ao Emmy pelo telefilme "Paixão Doentia") e de teatro (vitória no Tony por "The Real Thing"). A esta altura, com três filmes no currículo e três indicações consecutivas ao Oscar, ela parecia destinada a se tornar uma superestrela -- mas o melhor ainda estava por vir.

Glenn Close em cena de "Atração Fatal" Imagem: Divulgação/IMDb

Foi com "Atração Fatal", lançado em 1987, que Close cumpriu a promessa de estrelato e recebeu a sua quarta indicação ao Oscar. O filme, um sucesso de crítica e bilheteria, trazia a atriz no papel de Alex Forrest, que virou ícone das amantes rejeitadas ao viver um caso com o personagem de Michael Douglas e, a seguir, perseguí-lo incansavelmente.

"Foi o filme que me levou para longe das personagens que eu interpretei anteriormente -- mulheres boas, que cuidavam daqueles a sua volta. Eu me preparei mais para o papel de Alex Forrest do que para qualquer outro", disse Close, anos depois, em entrevista.

Glenn Close em cena de "Ligações Perigosas" Imagem: Divulgação/IMDb

No ano seguinte, ela fez "Ligações Perigosas". No filme de Stephen Frears, que a trouxe sua quinta indicação ao Oscar, Close interpretava a Marquesa Isabelle de Merteuil, que planeja vingança contra um ex-amante com a ajuda do sórdido Conde vivido por John Malkovich. A performance é considerada por muitos a melhor da atriz.

Close não apareceu no Oscar durante os anos 1990 e 2000, mas também não sumiu das telas. Pelo contrário, são dessa época os dois filmes em que ela interpretou o seu papel mais conhecido pelo grande público: Cruella DeVil, a vilã de "101 Dálmatas"(1996) e sua continuação, "102 Dálmatas" (2002). Já entre 2007 e 2012, ela estrelou a série "Damages", como a advogada Patty Hewes, que lhe rendeu dois prêmios Emmy.

Glenn Close em cena de "Albert Nobbs" Imagem: Divulgação/IMDb

O retorno da atriz ao Oscar aconteceu em 2012, quando foi lembrada por "Albert Nobbs", um projeto que cultivou por anos. Ainda nos anos 1980, Close interpretou no teatro o papel do homem transgênero escondendo sua identidade na Irlanda do século 19.

"Eu demorei tanto para fazer este filme que chegou um momento em que disse: 'Estou disposta a passar o resto da minha vida arrependida por ter desistido disso?'. Algumas pessoas vão mudar o seu ponto de vista [sobre pessoas trans] por causa do filme, e outras vão odiar de qualquer jeito. Aqueles velhos demais, ou idiotas demais, para aceitar a diferença entre os seres humanos, vão morrer eventualmente", comentou em entrevista.

Close trouxe esta delicada história para o cinema com sutileza notável, mas perdeu a estatueta do Oscar para Meryl Streep, que levou o prêmio por "A Dama de Ferro".

Com "A Esposa", outro projeto que passou anos tentando transformar em realidade, pode ser que ninguém consiga barrá-la. Aos 71 anos de idade, Close é uma das maiores atrizes americanas em atividade -- e a chance de finalmente honrá-la está nas mãos da Academia.

Fonte: UOL Cinemas // Caio Coletti

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