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"Black Mirror": Criadores elogiam Miley Cyrus e revelam o que inspirou novos episódios

Publicado em 05/06/19 10:00

ATENÇÃO: Este texto contém spoilers de "Black Mirror". Não leia se não quiser saber o que acontece.

Os criadores de "Black Mirror", Charlie Brooker e Annabel Jones, conversaram com o site da Entertainment Weekly sobre os três episódios da quinta temporada, que foram adicionados hoje ao catálogo da Netflix.

A conversa incluiu muitos elogios para Miley Cyrus, que interpreta uma popstar cuja fama é explorada por uma tia inescrupulosa no capítulo "Rachel, Jack and Ashley Too". Jones disse que Cyrus foi escolhida sobretudo por conta de seu senso de humor.

"Ela trouxe muita atitude [para o papel]", definiu. "Conforme o episódio vai progredindo, ele adquire um tom exagerado de sarcasmo e sátira, e Miley é ótima nisso. Ela não tem medo de sair um pouco de sua zona de conforto e fazer algo diferente".

"O que eu mais amo no episódio e na performance dela, no entanto, é a vulnerabilidade. Ela trouxe muitas observações sobre o mundo de uma popstar, as experiências pessoais dela neste espaço, sua relação com os fãs e a responsabilidade que isso traz", completou.

Brooker explicou que "Rachel, Jack and Ashley Too" foi inspirado na recente proliferação de turnês de hologramas de artistas mortos. "Prince, Whitney Houston, Amy Winehouse. É notável que muitas dessas pessoas morreram em circunstâncias extremamente trágicas", refletiu o criador.

"Eles foram mastigados e rejeitados pela indústria da fama, e agora ainda serão ressuscitados para mais? É muito maldoso. Estávamos pensando em inteligência artificial, também. E se tivéssemos um programa que escrevesse músicas como John Lennon? E se tivéssemos um assistente virtual, uma Alexa, com a personalidade de alguém famoso?", explicou.

Cena de "Striking Vipers", da 5ª temporada de "Black Mirror" Imagem: Divulgação

Twitter e "Street Fighter"

Falando sobre "Smithereens", episódio em que Andrew Scott interpreta um motorista de aplicativo que tem uma vingança pessoal para acertar contra o fundador de uma rede social mega-popular (Topher Grace), Brooker e Jones admitiram a inspiração no Twitter.

"Parte do personagem foi inspirada por Jack Dorsey [CEO da rede social]. Em 2018, no fim do ano, ele tuítou: 'Passei 10 dias em um retiro de silêncio'. Imediatamente as pessoas estavam respondendo: 'Ah é? Bom, sua rede social está cheia de nazistas! O que você está fazendo sobre isso?'", comentou Brooker.

"Eu achei irônico que esse cara tenha sentido a necessidade de se desconectar de sua própria plataforma. Bom para ele, né? Tentamos não fazer vilões exagerados, e não acho que ele seja um. Ele tem conflitos, e está perdido em tudo isso também", completou.

Sobre o final ambíguo do episódio, em que ouvimos um tiro, mas não ficamos sabendo quem foi ferido, o criador comentou: "Tentei retratar como um acontecimento dramático, algo tão importante na vida de tantas pessoas, se resume a apenas mais uma notificação, mais um pedaço de informação".

Já para o capítulo "Striking Vipers", em que Anthony Mackie e Yahya Abdul-Mateen interpretam ex-colegas de faculdade que se encontram em um videogame e começam um romance por lá, a inspiração veio de um lugar curioso: "Street Fighter".

"Esse tipo de jogo de luta é incrivelmente sexualizado", disse Brooker. "Os personagens tem corpos insanos, são como um Hulk sexy. Queríamos fazer uma história sobre duas pessoas que iam para um ambiente virtual e tinham um romance, mas não sabiam quem o outro era".

"Nos anos 1990, eu costumava jogar Tekken com os meus amigos. Lembro de pensar como os nossos vizinhos deviam achar que éramos donos de um bordel, porque havia sempre esse barulho de homens gritando e gemendo no jogo", brincou ainda o criador. "Sempre houve um elemento homoerótico nesses jogos".

"Outro tema do episódio é: Quando a pornografia se torna sofisticada o bastante para contar como traição?", instigou ainda Jones.

Fonte: UOL Cinemas // Caio Coletti

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