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15 anos de "Meninas Malvadas": Por que a comédia virou um clássico cult?

Publicado em 30/04/19 05:00

"Gretchen, para de tentar fazer o barro acontecer".
"Regina George trai o Aaron Samuels toda quinta na sala de projeção em cima do auditório".
"Ela nem estuda aqui".

Se você reconheceu alguma destas três frases, é provavelmente que seja um dos muitos fãs de "Meninas Malvadas". A comédia dirigida por Mark Waters, escrita por Tina Fey e estrelada por Lindsay Lohan marcou estas e muitas ouras citações na cultura pop.

São frases que não fazem qualquer sentido sem o contexto do filme. Quer um exemplo? Todo ano, em 3 de outubro, fãs comemoram o Dia de Meninas Malvadas, graças a uma piada da comédia que é impossível de explicar para quem não o assistiu. E tudo isso vem acontecendo há 15 anos (o filme foi lançado no dia 30 de abril de 2004).

Nos últimos anos, "Meninas Malvadas" cimentou ainda mais o seu status como clássico cult. Enquanto rumores e pedidos por uma continuação nos cinemas continuavam a surgir nas manchetes, Fey e seu marido, Jeff Richmond, surpreenderam ao escrever um musical da Broadway inspirado pela comédia, que repetiu o sucesso de bilheteria do filme.

No mundo da música, Ariana Grande fez de "Meninas Malvadas" uma das principais inspirações para "Thank U, Next", provavelmente o videoclipe mais comentado do ano passado. Mas o que há de tão especial em "Meninas Malvadas", que faz com que ele seja adorado, revisto e homenageado tanto tempo depois?

Seguindo a tradição

"Meninas Malvadas" conta a história de Cady Heron (Lohan), que foi educada em casa pelos pais a vida toda. Quando ela finalmente vai para uma escola "normal", é apresentada à garota mais popular do colégio, Regina George (Rachel McAdams), e se junta ao grupo de meninas liderado por ela, conhecido como As Poderosas. É quando outra amiga de Cady, a deslocada Janis (Lizzy Caplan), percebe que esta é a oportunidade perfeita para sabotar a cruel Regina.

O filme criado por Fey, inspirado em um livro de Rosalind Wiseman, é herdeiro de uma longa tradição de sátiras espertas que abordam a hierarquia social do colegial e colocam os excluídos contra os populares em um ambiente de ensino médio. É como se cada década tivesse um grande clássico do estilo: nos anos 1980, foi "Atração Mortal", com Winona Ryder; nos anos 1990, "As Patricinhas de Beverly Hills", com Alicia Silverstone.

O motivo pelo qual a experiência colegial adolescente é fonte de material inesgotável para comédia e drama é obvio: todos nós precisamos passar por ela. Acompanhar uma história que exagera e acha graça nesse ambiente é, naturalmente, uma experiência prazerosa -- e torna o filme em questão altamente "reassistível". Quando todo mundo já foi uma Cady Heron ou uma Regina George, é fácil fazer com que a gente dê risada delas no cinema --especialmente quando já somos adultos.

Reinventando a roda

O sucesso de "Meninas Malvadas", e sua durabilidade na cultura pop, não pode ser explicado só pela tradição de filmes de colegial que vieram antes dele. Assim como outras comédias do estilo que marcaram época, a criação de Fey precisava ter algo de especial para conquistar a imaginação do público.

Parte do segredo está na forma como "Meninas Malvadas" atualizou as convenções do subgênero. Como quase tudo que tem a mão de Tina Fey, o filme ganha tom feminista, com a personagem interpretada pela roteirista, a professora Norburry, entregando a fala que melhor encapsula este lado do filme: "Vocês [meninas] precisam parar de chamar umas às outras de vadias ou prostitutas. Isso só faz com que os meninos achem que seja ok chamar vocês dessas coisas".

O final do filme é outro momento em que esta inclinação fica clara. Apesar de punir a sua "vilã" Regina George e fazer da "mocinha" Cady Heron a rainha do baile, "Meninas Malvadas" encarna a noção de que a rivalidade feminina não ajuda ninguém, e faz a protagonista dividir a coroa em pedacinhos e destruir a barreira entre excluídos e populares ao distribui-la para vários alunos diferentes.

Moderno sem deixar de ser venenoso, "Meninas Malvadas" conseguiu o que a maioria das sátiras só sonha: resgatou personagens e situações batidas e criou novas versões delas. Um feito que definitivamente merece comemoração no seu aniversário de 15 anos -- de preferência, ao som de "Jingle Bell Rock".

Fonte: UOL Cinemas // Caio Coletti

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